Crítica: The Morning Show é envolvente e destaca potencial de Jennifer Aniston
Crítica da série The Morning Show, do Apple TV+, estrelada por Jennifer Aniston, Steve Carell e Reese Whiterspoon. Primeira temporada tem 10 episódios.
Série do Apple TV+ destacou Jennifer Aniston em poderoso papel
O Apple TV+ está entre nós, com The Morning Show, sendo uma das tramas mais esperadas pelo público.
Isso porque ela traz Jennifer Aniston de volta a TV, 15 anos após ela ter finalizado a icônica Friends. Demorou, mas Aniston não poderia ter escolhido papel melhor para retornar ao mundo das séries. Em The Morning Show, ela desafia as leis de um mundo dominado por homens para mostrar que as mulheres ainda precisam lutar – e muito – para conquistar autonomia e respeito.
The Morning Show conta a história de Alex Levy (Aniston), apresentadora de um dos programas matinais de maior prestígio nos Estados Unidos, o Morning Show. Levy é pega de surpresa quando seu parceiro há 15 anos na bancada do programa, Mitch Kessler (Steve Carell), é demitido após alegações de assédio sexual. Ela se vê em uma situação complicada na qual precisa noticiar o fato para o mundo, se posicionando. Porém, o que nem imaginava é que ela também estava prestes a ser demitida, por estar sendo considerada “datada”. Quando uma repórter mais jovem (interpretada por Reese Witherspoon) surge em cena ameaçando roubar o seu lugar, Levy precisa organizar os próximos passos para que ela conquiste autoridade e não perca seu emprego.
Começo da série é problemático
Com pouco mais de uma hora, o primeiro episódio da série é uma bagunça. Ele não sabe muito bem por qual caminho seguir ao introduzir a história e, em apenas 10 minutos, joga todo o plot da série para o espectador. Logo, nós somos obrigados a nos simpatizar ou repudiar alguns personagens sem qualquer envolvimento com os mesmos. Mas o que incomoda mesmo é que a série não sabe se definir. Talvez, isso seja reflexo da troca de roteiristas no meio do processo de criação da série. Jay Carson (House of Cards) saiu devido a diferenças criativas e foi substituído por Kerry Ehrin (Bates Motel).
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Portanto, quando achamos que a série vai contar a história de um assédio sexual e como que existe predadores masculinos prontos para encontrarem a sua próxima vítima, nós percebemos que esse não é o viés que iremos acompanhar. Na verdade, o assédio é colocado em segundo plano, para que os esforços da personagem de Aniston sejam destacados. É então que Levy acaba se tornando uma espécie “predadora” na história, a medida que ela não se importa quem será atingido diante dos seus planos para se manter de pé.
A confusão no roteiro, somado à falta de empatia em alguns momentos, torna o primeiro episódio massante. Mas The Morning Show recupera o fôlego rapidamente quando, a partir do segundo episódio, as cartas são colocadas na mesa.
Versatilidade no elenco salva a série
A partir do momento que conhecemos os personagens, a série traça os seus próximos passos. The Morning Show, assim, depois de um tempo, entendemos que ela pode soar confusa – principal questão que fez a crítica americana odiar a atração. Mas, na verdade, ela apenas faz o espectador pensar um pouco mais sobre a mensagem que ela realmente quer passar.
O vilão da trama não é Kessler, mas, sim, os executivos da emissora que tentaram abafar o caso o máximo possível. Além disso, eles também são traçados oponentes quando, em certo ponto, a trama decide fazer de Jennifer Aniston a verdadeira protagonista. Reforço o título de protagonista, pois ela está longe de ser uma “mocinha”. Isso torna a trama interessante, uma vez que você passa a torcer por Levy, mesmo sabendo que ela não é lá uma pessoa boa. Aqui, a atriz precisa mostrar seu talento e consegue provar que está apta a comandar um drama com cargas intensas, lendo textos que outrora soaria pesado não só para si, mas para a TV como um todo.
O mesmo podemos dizer de Whiterspoon, que começa um tanto acanhada na trama, mas logo cresce. Ela sim, é determinada e de bom coração. Mas Bradley Jackson não é boba e, ao longo dos episódios prova que tem potencial para participar do jogo de Alex Levy. A briga, antes ensaiada pelas duas, começa a soar como uma possível união, quando elas sabem que a mulher ainda é subvalorizada no campo de trabalho. Logo, o fato da rixa entre as duas ser destaque no começo da série pode incomodar. Mas talvez ela fosse necessária para a construção de uma luta maior que deverá ser mostrada ao longo dos próximos episódios. Elas precisam se unir contra um mundo que, diariamente, é oprimido por homens.
Nesse meio tempo, vale também ressaltar que Steve Carell está bem como Mitch Kessler, mas o roteiro não dá muitas chances para o ator ter um grande momento. Assim, ele acaba se tornando um mero coadjuvante em uma história que ele parecia protagonizar. Mas essa não é uma trama para seu personagem brilhar, e talvez ele apenas tenha de aceitar isso.
Cenas impecáveis
Pare fechar, é preciso ressaltar algumas cenas impecáveis. Jennifer Aniston, principalmente, parece dar um show cada vez que abre a boca na série. E nada soa forçado. Ela encarna, de fato, uma jornalista que precisa lutar com unhas e dentes pelo seu futuro, mesmo que ela tenha que passar por cima de algumas pessoas. A justificativa? Ela passou anos sendo a pessoa que é atropelada por outros, e agora ela acha que é a sua vez de liderar.
Witherspoon, por sua vez, vai subindo ao palco de co-protagonista, a medida que ela se aproxima de apresentar o Morning Show. Mas agora, ela está em uma “nova era” do programa, em que as regras não são mais ditadas por homens. Resta saber, daqui pra frente, se as normas conduzidas por Levy valerão todo esse esforço.
The Morning Show começa com a promessa de ser uma série que vai deixar sua marca na TV. De qualquer forma, ela não será compreendida por muitos ou adorada. Mas, no fim das contas, não é preciso essa aceitação máxima para fazer história. Talvez ela seja uma série má compreendida, tal como as mulheres representadas por sua trama são. Resta saber se ela terá a mesma força das protagonistas para lutar e se sobressair em um mundo dominado por tramas que por vezes andam, andam, andam e não dizem absolutamente nada a que veio.
Ficaremos na torcida…