Crítica: Vikings Valhalla é entretenimento empolgante e de qualidade
Vikings: Valhalla é união exata de ação bem feita com roteiro conciso. Série não perde tempo em entregar boas histórias e incríveis batalhas.
Há um mal que acomete diversas séries e minisséries. É o mal da enrolação, da espera… A mania de não sair do lugar, ou postergar grandes acontecimentos. The Walking Dead sofre desta doença desde a segunda temporada, no mínimo. Até mesmo a excelente Better Call Saul tem guardado cartas na manga para revelá-las sabe-se lá quando.
Recentemente, o TV Line publicou um artigo que viralizou. O título era claro: “Querida TV: pare de fazer boas ideias para filmes de duas horas em séries de dez horas“. É com alívio, portanto, que uma das maiores qualidades de Vikings: Valhalla seja justamente a velocidade com que desenvolve personagens e conta sua história.
Ambientada cem anos depois de Vikings, o projeto original lançado pelo History Channel, Valhalla acompanha outro grupo de vikings. Enquanto a série original começava pequena para dar passos largos com o tempo, Valhalla já começa grande. Se a história de Ragnar começava de certa forma introspectiva, a de Leif e dos demais personagens inicia mesclada à história da própria Inglaterra.
Com isso, o drama do “groenlandês” e seus parceiros vikings, Vikings Valhalla, já começa com altos níveis de tensão e importância. Estamos vendo, afinal, o fim da era viking, o ragnarök que ninguém imaginou acontecer desta forma.
Vikings: Valhalla conta história sem didatismo
Desta forma, Vikings: Valhalla traz importantes debates e elementos históricos. A adesão ao cristianismo por diversos grupos é um dos pilares desta narrativa. Assim, a série propõe uma análise interessante acerca da ascensão do cristianismo e eventual queda das demais religiões.
Logo, as brigas entre vikings com diferentes crenças não servem apenas como escapismo e cenas de confronto, mas como válidas discussões acerca da tomada desenfreada de uma religião ocidental e violenta.
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Além disso, Vikings: Valhalla aborda acontecimentos históricos sem jamais ser didática. Com isso, a série nunca confunde o espectador com nomes e lugares. Enquanto séries de ficção como Shadows and Bones e A Roda do Tempo são quase impossíveis de acompanhar, Valhalla desenvolve sua trama sem grandes tropeços.
Isso porque o roteiro da série adota um modo clássico de se contar histórias: os personagens são estes e eles precisam ir do ponto A para o ponto B. Logo, é com imensa satisfação que uma das melhores partes da temporada ocorra já no quarto episódio, em “A Ponte”.
Ação de primeira e roteiro conciso são a mistura exata
Muito desta desenvoltura vem de Jeb Stuart, criador de Valhalla e famoso roteirista de cinema. Alguns clássicos do cinema moderno, por exemplo, são dele: Duro de Matar e O Fugitivo. Fica claro, portanto, a habilidade de Stuart em fazer grandes obras de ação que jamais esquecem o desenvolvimento dos personagens e o andar da narrativa.
Com uma galeria de personagens bem estabelecida, a ação funciona e tem impacto. É por isso que “A Ponte”, o quarto capítulo, funciona tão bem. O público já está fisgado e já investiu naquelas pessoas. Assim, a ação tem peso e relevância.
Ajuda, ainda, que as sequências sejam notavelmente bem filmadas em Vikings Valhalla. A grande batalha de “A Ponte”, por exemplo, tem algumas das melhores cenas de guerra vistas recentemente. Com centenas de figurantes e apoio brilhante de efeitos visuais, a batalha é épica, além de tensa e recompensadora.
Vale apontar, ainda, a qualidade da fotografia e da edição da série. A primeira garante um visual cinematográfico aos acontecimentos, enquanto a segunda permite que acompanhemos tudo com clareza. Os efeitos visuais também são de primeira categoria e surpreendem tanto quando são usados de forma secundária quanto quando são elementos vitais da cena. Basta assistir às cenas dos navios em meio a tempestade e constatar o óbvio.
Com três temporadas garantidas, série sabe para onde vai
Para completar, o elenco todo funciona. Apesar de Sam Corlett ainda ser inexperiente, o protagonista segura a barra e carrega o fardo sem grandes percalços. Os destaques, entretanto, ficam com Bradley Freegard e David Oakes. O primeiro encarna o rei Canuto com fibra e carisma, enquanto o segundo vive Earl Godwin com uma mistura de confiabilidade e mistério que faria Little Finger, de Game of Thrones, orgulhoso.
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Com 24 episódios já produzidos e divididos em três temporadas, Vikings: Valhalla se dá bem justamente por saber para onde vai. Tendo a certeza do que acontecerá a seguir, o roteiro não precisa se preocupar em antecipar ou segurar determinados acontecimentos. Assim, temos uma série sólida, que tem todos os passos mapeados e não quer perder tempo. O resultado é um produto ainda melhor do que o original (a Vikings de Ragnar) e com grande potencial de crescimento.
Valhalla tem recebido críticas inaceitáveis por parte do público
Vale acrescentar, porém, a triste recepção de alguns fãs que criticam a série por ser “progressista”. Basta visitar portais como o IMDb ou o Metacritic e ver que a crítica aprovou o projeto, mas parte do público não. Isso porque os tolos conservadores, moralistas vazios da internet, se recusam a ver mulheres e minorias em posições de poder ou destaque.
Segundo eles, é inadmissível ver Jarl Estrid, uma mulher negra, como líder de um poderoso grupo viking. Para estes energúmenos, Vikings se tornou uma fantasia, uma ofensa à história, um projeto feito pela Netflix apenas com a intenção de “lacrar”.
Pois então vamos olhar para a história. Um estudo recente, realizado pela Universidade de Copenhagen e publicado pela revista Nature, traz o maior sequenciamento genético de vikings de todos os tempos. São mais de 400 fragmentos ósseos de toda a Europa que revelam detalhes sobre os vikings. O que ficou claro é que eles nem eram tão louros como a cultura ocidental tratou de espalhar. Na verdade eram mais morenos e mestiços. Eles também se misturavam e tinham filhos com diversos povos distintos.
Além disso, túmulos antigos revelaram que os vikings adotavam pessoas que não nasciam vikings, mas que eram totalmente incluídas em sua cultura. Para completar, fica provado que as mulheres tinham papeis importantíssimos na cultura viking. Elas podiam fazer o que quisessem, inclusive lutar, trabalhar e ter voz ativa na comunidade.
Em suma, os vikings eram mais progressistas que muita gente hoje em dia.
Nota: 4/5