Dexter: nova temporada tem boa estreia e pode agradar fãs
Crítica com spoiler destaca que Dexter está de volta do jeitinho que os fãs aguardavam. Nova temporada ainda ameniza o final do 8º ano.
O maior elogio que podemos dar ao revival de Dexter é que ele faz o desastroso final anterior parecer adequado. E melhor: nos convence de que aquela era a única forma de encerrar a trajetória de Dexter Morgan. Ao menos por hora. Isso porque New Blood, o novo capítulo na saga do serial killer, traz um sujeito totalmente mudado, como se tivesse realmente assumido uma nova identidade. Fica claro, portanto, que Dexter não apenas quer mostrar um novo homem à sociedade. Ele quer convencer a si mesmo de que é um novo homem.
E assim, logo de início, Dexter já nos traz um personagem complexo e que evoluiu, que saiu do lugar inicial. Isso, por si só, já é um grande acerto do roteiro, que opta por transformar toda a fórmula, ao invés de simplesmente criar um remember. New Blood não é uma coletânea dos melhores hits do assassino anti-herói. Trata-se de um novo álbum, um novo personagem que não só mudou como assassino, mas apresenta costumes distintos.
A boa e velha Dexter está de volta
E com o bom roteiro, essas mudanças na série não soam como se Dexter fosse outra pessoa. Graças ao texto e ao talento inquestionável de Michael C. Hall, podemos reconhecer o personagem de longe. É o mesmo homem, com as mesmas dores, mas com um tempero diferente. Isso nos leva a um grande acerto do revival: abraçar sem remorsos todos os erros cometidos em temporadas passadas. Ao contrário de inúmeros filmes e séries que optam por ignorar os capítulos ruins e apenas considerar os sucessos (vide Halloween, O Exterminador do Futuro, etc.), Dexter: New Blood considera cânone cada tropeço. E este é seu trunfo: ao invés de ignorá-los, a série resolve abraçá-los e, no processo, consertá-los a seu modo.
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O resultado é a boa e velha Dexter que aprendemos a amar. Mistura de drama viciante com novelão e humor descompromissado, New Blood sabe usar cada chavão da mitologia da série para fazer os fãs vibrarem. Assim, quando Dexter captura a primeira vítima, ou quando ergue a faca pela primeira vez, mirada no peito do alvo, somos levados diretamente às saudosas sequências de temporadas passadas. Quando os acordes que marcam o tema da série ressoam ao fundo, uma nostalgia bate e sabemos que estamos de volta.
Dexter é uma das séries mais importantes da nova era da TV
Dexter está recheada de nostalgia. Estamos falando de uma das primeiras e mais importantes séries da atual era de ouro da TV moderna. Discutimos aqui um programa que nasceu antes de Breaking Bad, Game of Thrones e True Detective, programas que são considerados obras-primas em listas. Debatemos, portanto, um show que foi ar na época que Lost e Friday Night Lights ainda brilhavam na TV aberta. A história de Dexter é antiga e, apesar dos tropeços, sua caminhada de oito temporadas é notória. O quarto ano, por exemplo, que trouxe John Lithgow como um implacável assassino, é impecável.
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Neste início de reboot, encontramos Morgan vivendo uma vida pacata. Com novo nome, ele é um morador exemplar de uma cidadezinha no interior do interior. Crimes assombram as redondezas, mas nada parece chegar ou abalar o local e seus moradores. Tranquilo, Dexter – agora Jim – tem vários amigos, trabalha em uma loja de armas e tem uma bela e aparentemente duradoura namorada.
Mas o passado sempre volta, e a compulsão por sangue fica evidente, quando um assassino sem remorsos aparece nas ruas de seu novo lar. Lutando contra o seu dark passenger, Dexter fica dividido entre uma vida segura e um cotidiano de morte, sangue e vingança. Tudo enquanto um rosto do passado retorna para visitá-lo.
New Blood é a promessa de que há espaço para “revivals”
Na linha de frente, Michael C. Hall veste a persona de Dexter Morgan como uma luva. O ator, um dos melhores de sua geração, está tão confortável no papel que consegue reascender olhares e trejeitos com naturalidade única. Assim, quando o vemos encarar alguém de longe ou mesmo dançar desengonçadamente, vemos de imediato que aquele é realmente o anti-herói que acompanhamos por anos a fio. Ao seu lado, aparecendo esporadicamente, temos sua irmã, vivida por Jennifer Carpenter. Como Dexter já usava as “visões” desde o princípio, encontrar esses velhos personagens é tão normal quanto vermos os novos rostos da trama.
Em uma estreia promissora e divertida, Dexter: New Blood prova que ainda há energia e futuro para novos clássicos. Logo, em uma onda de reboots, a série do Showtime é uma das que mais se destaca. Assim, caprichada no suspense e nos ganchos costumeiros da produção, New Blood pode representar um novo capítulo positivo na história de Dexter e de outras séries que buscam uma nova chance.
Recentemente, outra produção dos anos 2000 buscou um novo respiro entre as constantes novidades: 4400 se atualizou e trouxe uma nova roupagem para um projeto que não vingou o suficiente quando foi ao ar pela primeira vez.
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Entre mortos e feridos, Dexter: New Blood percorre caminho semelhante ao de Os Muitos Santos de Newark, filme que conta a juventude do protagonista de The Sopranos. Não são derivados perfeitos, mas cumprem bem os seus papéis. Ambos sabem que podem funcionar com os fãs, além de convidar inúmeras pessoas a conhecerem suas histórias. O clássico da HBO, por exemplo, ganhou notória sobrevida no streaming, e tem sido uma das séries já finalizadas mais assistidas do ano. Enfim, o objetivo de Dexter é o mesmo: levar novos espectadores a uma das séries mais bacanas que a TV concebeu neste século.