Crítica: House of Cards está de tirar o fôlego em sua temporada final
Crítica da sexta e última temporada de House of Cards, série original da Netflix, que apreseta uma Claire dominadora e independente de Francis Underwood
Confira crítica da sexta temporada de House of Cards
Embora tenha sido a primeira trama de grande visibilidade da Netflix, o teor político de House of Cards, as falas aprimoradas e os lances de câmera diferenciados a fazem ser uma obra sem tanto apelo comercial. Isso não impediu que HoC se tornasse um dos maiores sucessos dos originais da plataforma. Tanto que, mesmo com a saída de seu protagonista (relembre aqui), uma sexta e arriscada temporada foi encomendada. E graças a Deus por isso. No lugar de uma Claire em segundo plano, tivemos chance de vê-la no comando de tudo. O tom dado foi certeiro, mas não significa que várias situações tenham sido deixadas de lado e mal exploradas.
Falemos então de como justificaram a saída de Kevin Spacey. E aqui devemos ser justos, pois foi algo muito “tô nem aí”. Simplesmente houve uma morte natural não justificada até os 45 do segundo tempo. Por oito episódios inteiros ficamos no escuro sobre o que de fato aconteceu. Porém isso não foi assim tão menosprezado. As viradas para a câmera, agora absorvidas exclusivamente por Claire realmente quebraram duas vezes a quarta parede. A primeira por impor a opinião da personagem dentro de seu próprio universo. Depois, acredito que vão concordar comigo, por transparecer a posição da própria Netflix frente a continuar a série sem o Underwood preferido da América.
Claire não perdeu tempo para marcar seu território, colocar seus inimigos no lugar e arranjar novos adversários
O fantasma de Francis assombra Claire e os que estão a sua volta em todos os capítulos. Por conta disso ela se vê obrigada a cumprir acordos do ex-presidente e abaixar a cabeça a seu contragosto. Como se isso não fosse o bastante, uma nova família aparece em seu caminho. A chegada dos Shepherds – Anete, Bill e Duncan – estremece a gestão da presidente e isso foi fundamental para termos bons momentos de tensão. Era fundamental que novos personagens nos deixassem claro em tela que estaríamos vivendo aqui um outro momento. E a continuidade de outros, por exemplo, mostram que existia muito a ser respondido ainda.
Não escondo minha frustração em relação ao senso de justiça à imprensa (Zoe Bornes, Lucas, etc). No fim das contas não tivemos finais felizes para ninguém. Ao analisar do capítulo 1 ao derradeiro 73 percebemos que a felicidade não foi algo alcançado por ninguém. Os próprios flashbacks de Claire (poucos, mas certeiros) apontam o quanto ela tinha de caminhar e suas opções para ter uma vida feliz. Porém ela escolheu Frank e foi dominada pela fome de poder. Até achei que a gravidez dela seria uma fake news, mas não. Algo tão bombástico como isso, de certo já pensado desde o início das filmagens, renderia mais uma temporada se o Kevin ainda estivesse no circuito.
As mulheres realmente dominaram a cena este ano, algo muito bom e afrontoso, não só nos Estados Unidos
Robin Wright mostrou toda sua belíssima atuação e representou, muito bem, as mulheres como chefes. Aliás, em todas as mais variadas oportunidades ela deixou claro sua exigência por respeito. Algo não fácil de alcançar tendo em vista o modo como ela chegou até a Casa Branca. Em um verdadeiro golpe de mestre ela conseguiu renovar toda sua equipe. E que surpresa! Todas são mulheres. Uma jogada genial para fortalecer sua bandeira de apoio ao feminismo e uma cutucada nos padrões americanos de dar muito crédito as mulheres no quesito envolvimento político.
A redução do número de episódios, sempre 13 agora 8, fez com que tudo ocorresse muito rápido. Algo realmente positivo para o “pouco a se contar”. Temos de combinar que sem o Frank, Claire seria no máximo uma cúmplice pouco difícil de ser condenada por sua participação nos crimes do marido. Daí então, vê-la desenvolver essa parte da trama não iria ocorrer bem como esperávamos. Tanto que a solução para a grande maioria deles foi a morte. Um a um morreram para que não existissem rastros do passado dos Underwoods. Mesmo a questão dos abortos, antes algo mortal para o histórico deles, passou praticamente desapercebido. Uma lástima, vale acrescentar.
E por fim falemos de Doug Stamper, peça fundamental para o fechamento do seriado
Ele esteve ali todo o tempo. Um fiel escudeiro de Francis. Não o traiu em nenhum momento. E olhem só o desfecho de tal lealdade. Stamper foi o responsável pela morte mais sem sentido para ser explicada. Contudo devemos dar o braço a torcer que até valeu a explicação. Os momentos finais de tensão entre ele e Claire foram o que fez valer acompanhar essa temporada final. Não foi bem como eu imaginava, mas se fosse não seria HoC. Aqui abro espaço para dizer que a falta de um objetivo claro para os personagens principais fez com que os secundários ficassem avulsos em vários momentos. Os próprios Shepherds, com tanto potencial, ficaram meio de lado.
A temporada então foi em sua grande parte muito satisfatória. Isso porque devemos levar em conta que a série foi projetada para ser uma dupla principal enfrentando os caminhos da política estado-unidense. Sem Frank foi o máximo que puderam fazer. Aplaudo a Netflix pela coragem de enfrentar as críticas de continuar o seriado. Era necessário. Agora nossa imaginação fica ainda mais aberta para a continuidade dos nossos sonhos. Se é que sobrou algo para pensarmos em construir aqui, não é mesmo?
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