O Conto: força e qualidade em um dos filmes mais importantes do ano
O Conto é mais uma obra excelente no catálogo da HBO.
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Em tempos onde as indústrias televisiva e cinematográfica convergem em um caminho que parece único, The Tale surge como um dos maiores representantes dessa divisa que se torna cada vez mais apagada. O Conto, como foi intitulado no Brasil, é um filme exibido pela HBO que revelou-se sucesso absoluto de crítica. A obra, que surgira em festivais de cinema, foi impulsionada pela mídia especializada como uma das favoritas à próxima edição do Oscar. Uma reviravolta surpreendeu o meio: o canal HBO acabou comprando os direitos de exibição e distribuição do filme. O que era possível indicado ao Oscar acabou indo para TV e sendo nomeado ao Emmy.
Assim, esqueçamos o termo “telefilme”. O Conto é um “filme”, como Moonlight, A Forma da Água ou qualquer outro oscarizável. O meio é outro, mas isso é apenas um detalhe, principalmente na era em que vivemos, onde os filmes são mais assistidos em meios alternativos do que na sala de cinema. Assim, o lançamento da HBO é um curioso atestado de convergência, de mescla de abordagens e quebra de paradigmas.
A ultrapassagem de fronteiras não fica apenas no campo de lançamento, mas no próprio tema e roteiro do longa-metragem. Corajoso do primeiro ao último segundo, O Conto é um filme poderoso e avassalador. Escrito e dirigido por Jennifer Fox, que criou a história baseada em suas próprias memórias e vida, The Tale não tem medo de deixar o espectador desconfortável e relançá-lo ao mundo real repleto de questionamentos e conflitos internos. Ao chafurdar nas próprias lembranças dolorosas, Fox tenta achar um sentido para o que viveu, tudo tendo a arte como válvula de escape.
O resultado é uma obra que toca fundo. Ao abordar temas como estupro e pedofilia, O Conto não economiza nas cenas gráficas e nas palavras. É válido, aliás, salientar que este não é um filme fácil; pelo contrário, trata-se de um longa pesado que pode chocar ou despertar gatilhos. É um filme que fala de forma franca, sem rodeios, e ainda encontra espaço para discutir a força de nossas lembranças e aquilo que contamos para nós mesmos, de forma a aceitar o que aconteceu e seguir em frente.
Todo o peso do texto é carregado com mãos firmes por Jennifer Fox, que comanda a câmera com sobriedade. No elenco, a força total reside em Laura Dern, absolutamente incrível no papel principal. Dern, aliás, possivelmente teve em O Conto o papel de sua vida. Trata-se de uma personagem difícil, com camadas escondidas que sequer vemos, mas sabemos que estão ali. É uma performance milimetricamente trabalhada, calcada em detalhes e sem arroubos dramáticos, regado a exageros. Dern tem poder magnético, e certamente estaria entre as favoritas ao Oscar caso O Conto chegasse aos cinemas.
Se O Conto teria chances de indicação ao Oscar, nunca saberemos. E isso não importa. O que importa é que essa belíssima obra chegou ao público, que as pessoas puderam assisti-lo e debatê-lo. O meio para isso é apenas um detalhe.