Saldo final do Emmy é negativo e marca uma premiação acovardada

Confira balanço final do Emmy 2018, pelo Mix de Séries.

Imagem: NBC
Imagem: NBC

Um Emmy covarde.

Foi o que vimos na noite da última segunda-feira. Em tempos como os de hoje, acovardar-se tem seu preço, principalmente quando se tem poder e visibilidade nas mãos. Não estamos dizendo que política é mais importante que arte, ou que os programas mais relevantes em termos sociais deveriam vencer, mas o fato é que o Emmy escolheu o caminho mais fácil, mais cansativo, e também o mais óbvio.

Sem falar nos comentários contra Trump e delicada situação política do país: foram poucos e tímidos. Outra grande oportunidade desperdiçada. Além disso, onde estavam as piadas e os comentários acerca do movimento Me Too, os escândalos envolvendo grandes atores e membros da indústria. O Emmy estava com medo? Esqueceu tudo o que aconteceu ?

Não entenda mal: The Marvelous Mrs. Maisel Game of Thrones são incríveis, mas são séries que apenas repetem tendências e pouco dialogam com o mundo atual. Depois de premiar por vários anos consecutivos Modern Family Veep, o Emmy novamente premia uma série totalmente branca. Perdeu-se a oportunidade de reconhecer uma equipe e um elenco negro por uma série melhor e infinitamente mais relevanteAtlanta saiu de mãos vazias, entrando para o seleto grupo das grandes séries esnobadas pela premiação.

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Novamente: não estamos dizendo que Atlanta merece só por ter um comentário social e político importante. Além disso, trata-se de um estupendo trabalho técnico e narrativo, uma aula de como se fazer televisão diferente, experimental, com doses cavalares de humor e um toque irresistível de drama. No futuro, daqui a dez ou vinte anos, é de Atlanta que o público e a crítica provavelmente vai lembrar, e não de Maisel. Hoje, poucos se importam com The West Wing, que levou quatro Emmy de Melhor Drama, mas todos colocam The Wire no topo, como um dos melhores shows da história. The Wire não venceu um Emmy sequer.

O medo de arriscar se estendeu para o Drama

O invés de premiar uma série com forte comentário feminista, dominada por grandes atrizes, ou então reconhecer um poderoso projeto em sua última temporada, os votantes preferiram Game of Thrones. Alertamos anteriormente que a vitória de GoT não era impossível: o Emmy, afinal de contas, é um programa. Ele vende espaço publicitário e precisa de audiência para existir. Ele foi transmitido na segunda-feira justamente para ser mais assistido, e dar o prêmio para a série da HBO é uma forma de conquistar o público. Votando na série mais popular, você faz parte do grupo mais popular. Simples.

O Emmy, assim como Oscar, é negócio. Repito: negócio. Ninguém está ali para reconhecer a arte, a qualidade dos programas e artistas.

Não dá pra entender, portanto, porque o Emmy insiste em tantos apresentadores medíocres. A premiação insiste em chamar pessoas que visivelmente não queriam estar naquela situação. Michael Che, péssimo comediante, além de ter um histórico de piadas preconceituosas, ainda demonstrou má vontade durante toda a premiação. Se a ideia é ter dois inúteis no palco, que se faça como o SAG Awards: não tenha apresentadores. Deixe que uma voz fale no microfone e chame os apresentadores de cada categoria. Além disso, como que nenhum produtor ou diretor percebe que aqueles pequenos esquetes não têm graça alguma. Maya Rudolph e Fred Armisen são ótimos, e sua nova série, Forever, é excelente. As piadinhas durante a festa, contudo, foram terríveis.

Mas o que o Emmy fez certo?

Os prêmios de Matthew Rhys e Rachel Brosnahan são incontestáveis, mas o de Regina King, por exemplo, beira o absurdo. Seven Seconds é um tremendo erro da Netflix, e Laura Dern está impecável em The Tale. Claire Foy fez um lindo trabalho em The Crown, mas Elisabeth Moss foi além em The Handmaid’s Tale – basta assistir a cena do parto na segunda temporada.

As categorias de roteiro e direção foram acertadas, mas como aceitar Ryan Murphy, um diretor assustadoramente regular, ganhar de David Lynch? Ou melhor: como Murphy ganha uma prêmio de direção? Stephen Daldry, diretor de The Crown, é ótimo, mas a sensação aqui é a de que o nome do artista falou mais alto. Daldry tem várias indicações ao Oscar, comandou filmes como As Horas, O Leitor Billy Elliot. Dentre os nomeados, é o mais conhecido. Tinha o melhor trabalho? Definitivamente não.

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No fim, tirando uma novidade e outra, o Emmy resolveu seguir um caminho repetitivo. Mesmo algumas séries novas que premiou, a ideia por trás era a mesma que norteou vitórias passadas. Até nas séries limitadas houve repetição: quem venceu foi American Crime Story, com sua segunda temporada irregular.

E pior: ano que vem a tendência é repetir tudo de novo. Veep retorna com a última temporada, assim como Game of Thrones. Ou seja, é provável que não tenhamos novidades pelos próximos dois anos. Afinal, o Emmy perdeu uma chance histórica em 2018.

Leia também: Game of Thrones ganhou o Emmy por sua pior temporada. Vai entender?

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.