Um pouco diferente…

Nessa semana, o Editorial Mix olha para o ano sem Game of Thrones e para o significado disso para o potencial de criação da ficção.

Imagem: Arquivo Pessoal
Imagem: Mix de Séries

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Ah 2018… Mal começou e já rendeu tanto. Em meio a todo um universo de situações, sejam elas continuações de problemas anteriores ou surpresas “novas” que surgiram – não completamente inesperadas, mas surpreendentes mesmo assim – o ano com toda certeza começou com impacto. Isso posto, ainda vale lembrar de um detalhe que, para alguns, multiplica os outros fatores. Afinal, esse será um ano sem Game of Thrones.

Não é uma notícia antiga, nem algo que seja realmente chocante. Sabíamos que 2018 seria um ano de “hiatus” da série. E mesmo que algumas pessoas convenientemente tenham esquecido disso – dando a emissora e aos atores a oportunidade de vir a público para confirmar que não teremos Game of Thrones em 2018 – não podemos deixar passar o que isso significa. Sim, esse é um ano sem Game of Thronese daí?

Antes de continuar com isso – e antes que vocês possam realmente se revoltarem – uma ressalva é necessária. Afinal, não me entendam mal, com todas as minhas resalvas sobre partes específicas da adaptação, nem eu nego a genialidade e a grandiosidade da produção. Seguindo uma tradição de grandes produções da HBO, a série já marcou seu lugar na história da TV com suas inúmeras traquinagens. Contudo, depois de ponderar um pouco e de observar – é um guilty pleasure pessoal observar as proporções de insanidade que certas coisas tomam atualmente – as inúmeras (e divertidíssimas) reações a um fato tão simples. É um ano sem uma série. Pode ser mais simples que isso?

Vamos pegar uma terceira parte – que foi colocada no assunto várias vezes, injustamente até – para deixar a traquinagem mais completa. Westworld por exemplo, não sem certo barulho, também passou um ano sem uma temporada e o mundo não acabou por causa disso. E sim, todos podem dizer que a tradição de Westworld, o suspense, a expectativa é muito menor do que a massificada que é Game of Thrones. Da mesma forma, eu posso rebater com o já clichê “mas Westworld não será a sucessora de Game of Thrones?”, nos colocando num debate longo e sem propósito.

Na verdade, muitas coisas podem ser ditas aqui, e todas elas levam a muitos outros debates, num exercício… cansativo. Então, nos poupemos disso e vamos ao que realmente nos trouxe a essa traquinagem em particular. Sim, este é um ano sem uma das produções mais notórias dos últimos anos. Contudo, assim como alguns disseram sobre o dilema enfrentado pelo Emmy, isso não é uma coisa ruim. Pelo contrário, é um ano em que, livres desse compromisso, dessa expectativa mais imediata, podemos nos dar ao luxo de apreciar novas produções, cuja qualidade da narrativa e complexidade do roteiro já se destacam – sendo 9-1-1, The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story, Big Little Lies e The Handmaid Tale os exemplos mais flagrantes disso.

Então, talvez, só talvez, um ano sem Game of Thrones possa ser entendido, até pelo fandom mais… “dedicado” como uma coisa boa. A previsibilidade e a acomodação são algumas – com certas ressalvas – as piores coisas para uma narrativa ficcional. E, ironicamente, apesar da inegável qualidade da série, Game of Thrones nos deixou exatamente assim: acostumados a, de maneira previsível, aguardar às 22 horas dos domingos e as surpresas que virão dali de maneira quase que mecânica.

Ter a oportunidade de apreciar um ano sem isso, abre caminhos para que novas produções tenham seu momento e mais: dá àqueles que chegaram ao mundo das séries pela porta massificada que Game of Thrones é e se apaixonaram por esse mundo possam conhecer mais.

No fim, é sempre algo subjetivo. Essa não-tão-longa divagação que estou encerrando provavelmente não vai mudar a opinião de vocês. Mesmo assim, sempre vale a pena, por mais vão que pareça, deixar um argumento pela melhora. Expandir os horizontes de expectativa, aventurar-se por novos gêneros, novas narrativas, por lugares inexplorados desse universo tão grande que é o entretenimento sempre são cruzadas válidas para se percorrer. Até porque, é no potencial ainda não explorado, na capacidade de surpreender que a ficção se constrói e reconstrói, e cá para nós, é dessa reinvenção que as grandes surpresas surgem. Agora só nos resta esperar que o saldo desse essa diferente seja positivo.

Sobre o autor
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Richard Gonçalves

Professor de Língua e Literatura, apaixonado por quadrinhos, música e cinema. Viciado em café, bons livros, boas animações e ocasionais guilty pleasures (além de conversas sem começo, meio nem fim). De gosto extremamente duvidoso, um Reviewer ocasional aqui no Mix de Séries e Colunista no Mix de Filmes.

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