Crítica: 5ª temporada de Gotham entrega desfecho fraco para a série
Crítica da quinta e última temporada de Gotham.
Gotham se despediu do público com história que não vai deixar saudade
2014 foi o primeiro ano que o Mix de Séries esteve no ar, e também foi o ano de estreia de Gotham. Em setembro daquele ano, escrevi uma das minhas primeiras críticas no portal falando justamente sobre o primeiro episódio da série. Uma recente releitura me fez lembrar que na época eu esperava pouquíssimo da série, que acabou me surpreendendo. Naquele momento, eu gostei do que vi. Gotham havia me surpreendido. Mas, infelizmente, não poderei falar o mesmo da sua parcela final de episódios.
Fã de Batman desde garoto, cresci lendo os quadrinhos do morcegão. Vibrava com cada exibição dos filmes da era Tim Burton na TV. Sim, Michael Keaton ainda é meu favorito. Posteriormente, assisti nos cinemas cada longa de Christopher Nolan, pelo menos, umas cinco vezes. E ainda, consigo defender em uma discussão saudável o porquê Batman Vs. Superman é filme incompreendido pelo público. Se existe alguém na face da terra que pensa duas vezes (ou até três) para falar mal sobre algum material do Batman, este alguém sou eu. Mas infelizmente, não posso poupar as críticas para a temporada final de Gotham.
O que aconteceu com Gotham?
Na quinta (25), dia da exibição do episódio final, publiquei um texto ressaltando a importância da série para o legado do Batman (leia ele aqui). Como fã, sei o quão a série resgatou a essência do morcego para a TV, após tantos anos afastado dessa mídia. Ainda, ajudou a manter a cultura do personagem viva na transição entre a Era Nolan e a Era Snyder. Entretanto, eu fico incomodado em ver como a série teve um desfecho ruim.
No começo, a série agradava por dar aos personagens destaques necessários, somado a boas histórias. E, nessa última temporada, a essência da série se perdeu. Foram 12 episódios no quinto ano, e ao meu ver seria um número mais do que necessário para fechar a trama do isolamento de Gotham City e dar aos personagens os rumos necessários para chegarmos ao último episódio.
Não havia necessidade de Gotham perder tantos episódios contando uma história que ficou chata. O fato de Gotham City estar isolada transformou a cidade numa “terra de ninguém”. E isso soou até interessante se você assistir ao primeiro episódio da temporada. Mas lá para o terceiro, o sentimento de “já deu” para essa trama cresceu. E então, tínhamos ainda mais uns oito episódios pela frente. Para quê?
Condução da temporada estragou a conclusão
Em uma recente entrevista, os produtores “justificaram” que a série não era sobre o Batman, ou sobre Bruce Wayne, mas sim sobre Jim Gordon. Ok, é a perspectiva deles. Entretanto, eles precisam entender que Jim não é um personagem que funciona sozinho. E não adianta nada focar nele se não há bons personagens e tramas para acompanhá-lo.
No meio desse “lenga-lenga” de reintegração de Gotham City, ainda inventaram de criar um “Bane”. A origem do personagem foi completamente distorcida, tudo para que de alguma forma ele tivesse conexão pessoal com James Gordon. Além disso, posteriormente, enfiaram a família Al Ghul para tentar criar uma trama inspirada pelo terceiro filme de Christopher Nolan. Deu mais errado ainda.
No fim das contas, Gotham ganhou um presente que foram 12 episódios para encerrar sua trama, e ao invés de fazer isso criou mais situações desnecessárias que acabaram manchando o legado da série. E ao gastar esses episódios com tais tramas, os produtores tiveram apenas 40 minutos para avançar 10 anos no futuro, no dia em que o Batman aparece pela primeira vez em Gotham City. O resultado já podemos imaginar.
Episódio final
Ao terminar de assistir o episódio final, eu senti até um pouco de vergonha. Tudo soou tão artificial, que realmente não tinha nem o que elogiar. O fato dos personagens estarem 10 anos mais velhos – mas com cara de 10 anos mais novos, já foi algo para incomodar.
Bem como, acrescenta-se o fato que de alguma forma os produtores acharam boa a ideia de trocar a atriz que faz Selina Kyle para mostrá-la mais velha, mas não se preocuparam em trazer um Bruce Wayne mais velho. Eu até entendo que não havia o porquê de trocar um dos principais protagonistas aos 45 do segundo tempo, mas entendam que isso funcionaria bem melhor se esse avanço no tempo tivesse ocorrido no episódio 11, ou até mesmo no 10. Gotham precisava de um arco de pelo menos três episódios para mostrar essa linha do tempo, trabalhar o retorno de Jeremiah, a saída do Pinguim e do Charada da prisão, bem como o retorno de Bruce Wayne para a cidade.
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No começo, ficou tudo muito sub entendido. Afinal, Bruce queria tanto proteger a cidade, mas do nada resolveu se afastar dela? Ficar dez anos fora? É claro que sabemos que o personagem se afasta para aprender a lutar e tudo mais, de acordo com a origem que foi reinventada várias vezes. Mas nesta versão de Gotham, o personagem não tinha motivos. Mais ainda, não tinha também para retornar.
O resultado, foram cenas bobas, sem qualquer emoção. O momento em que Bruce reencontra Selina no telhado, por exemplo. Ela precisava ficar de costas, porque não havia um ator pra colocar interpretando o Bruce mais velho. Ficou bem feio.
Além disso, os outros personagens ficaram extremamente diminuídos, como se não existisse uma conclusão para suas tramas. Barbara, Lee e até mesmo Alfred. Todos eles foram jogados a escanteio, como se não tivessem qualquer importância para a construção do trama. O resultado foram rápidas aparições sem qualquer aprofundamento para o que aconteceu com eles nesta passagem de tempo.
Um Batman artificial
Nem a conexão de Bruce com o morcego se deram o trabalho de fazer. Afinal, porque ele escolheu esse símbolo? Esperava momentos como ele redescobrindo a caverna. Encontrando morcegos por lá. Trabalhando a ideia de que ele sempre tivera medo dessa figura, e projetando esse medo ao que ele sentiu na morte do seus pais. Bem como, tentar trazer a ideia de que era esse medo que ele queria repassar para os bandidos.
A história poderia ser de Jim Gordon, mas o universo é do Batman. E o personagem merecia esse mínimo de respeito. E assim, acaba não sendo um problema do episódio final em si. Porém, um resultado dessa má condução da história em seus capítulos finais.
Simplesmente falo isso porque acho que a série merecia bem mais. E não me contento com esse final porco que resolveram dar.
Encerra-se uma trajetória
Gotham sempre trabalhou com uma história em que os espectador podia entrar e sair. Mas manteve-se fiel ao seu propósito de início durante todo o tempo – ou quase. Mas os arcos inflaram de uma forma que a estrutura da série não aguentou. No começo, era uma série procedural, e depois passou a conduzir uma trama serializada. Gordon precisou lidar com problemas pessoais. Barbara foi para vilã louca e achou seu caminho de volta no final. O Pinguim caiu e subiu ao poder tantas vezes, que se loucura tornou-se cativante em certo momento.
Enfim, havia tramas para se assemelhar ao longo do caminho. E para aqueles que acompanharam semana após semanas, se depararam com uma história envolvente, sobre uma polícia metropolitana lotada de corrupção, com ascensão de vilões insanos e uma onda de crime sem precedentes.
Vou preferir guardar com carinho a trajetória de Gotham como um todo. Os personagens, muito bem criados e desenvolvidos, entre outras coisas. Mas vou tentar esquecer, honestamente, este final. Infelizmente, a série se despediu com uma temporada chata, minguada, e com um capítulo final pior ainda. E é uma pena.
A tomada que mostra o Batman pela primeira vez deveria ser algo a comemorar, vibrar, ou pensar… “Que trajetória. Chegamos até aqui.“. Mas o que veio a minha cabeça foi apenas “Ufa, ainda bem que acabou!“.