Crítica: 6ª temporada de Peaky Blinders decepciona como última

Peaky Blinders chega à Netflix com sua última e aguardada temporada. Resultado, entretanto, é decepcionante e anticlimático.

Peaky Blinders

Quando Peaky Blinders lançou sua primeira temporada há alguns anos, a série começou como vários programas britânicos: com muita qualidade, mas de forma modesta. Ela trazia, como é comum no país, visual arrojado em uma temporada curta. Com o tempo, o show virou um sucesso e, sem percebermos, tornou-se um fenômeno. Furando a bolha que separa a produção audiovisual britânica da norte-americana, Peaky Blinders não conquistou apenas fãs, mas um séquito, fiel e adorador. Hoje, muitos apontam o projeto, disponível na Netflix, como um dos melhores dos últimos anos, ao lado de gigantes como Breaking Bad e The Sopranos.

Há um tanto de exagero na adoração. Peaky Blinders é excelente, mas a única coisa sólida em suas seis temporadas é o visual. O ritmo, desde o primeiro ano, é irregular. Com o tempo, o roteiro tentou aumentar o escopo e perdeu o medo. Resolveu, então, falar sobre temas enormes como fascismo. Além disso, flertou com camadas sobrenaturais e sempre tentou dar passos largos. No pano de fundo, o show sempre se escorou na força de seus anti-heróis. Neste sentido, a produção se dá bem, pois Cillian Murphy é excelente na pele de Tommy Shelby.

Antes de seguir, um aviso: este texto não traz spoilers, mas discute a estrutura geral da sexta temporada de Peaky Blinders. Desta forma, alguns leitores podem receber informações indesejadas antes do fim.

Sexta temporada de Peaky Blinders começa bem, mas cai em narrativa pouco interessante

Com esta trajetória de crescente sucesso, Peaky Blinders chega à sua última temporada, mas não a seu último capítulo. Isso porque a história deve retornar em forma de filme, a ser lançado no futuro, sem data definida. É com pesar, portanto, que constatamos o inesperado: uma temporada anticlimática e que não leva a lugar algum. Em sua última trajetória na televisão, Peaky Blinders comete o maior dos pecados: desrespeita a casa que sempre a abrigou, a TV. Com a cabeça no Cinema e no encerramento em filme, os roteiristas acabam entregando uma temporada com várias lacunas, muita antecipação e pouca entrega.

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De largada, Peaky Blinders entrega um excelente episódio. Sem rodeios, o roteiro explica a ausência de Polly e estabelece as peças que serão movimentadas nos próximos capítulos. O problema é que depois de um começo intenso, a temporada se embaraça num vai-e-vem vazio e pouco interessante. Assim, acompanhamos Tommy em uma saga pessoal que pouco chega perto dos confrontos explosivos que esperávamos para a última temporada. Neste sentido, o protagonista parece querer se despedir de tudo e todos, mas sem estouros. Assim, sobram conversas e faltam tiros.

Em seu desfecho, série opta por evitar conflitos e seguir o anticlímax

Nesta perspectiva, até os principais conflitos ficam em segundo plano, cozinhando em banho-maria. Logo, o imbróglio entre Tommy e Michael não chega a um final satisfatório e a guerra com Mosley não chega sequer perto de acontecer. E talvez jamais aconteça, já que o Oswald Mosley real faleceu em 1980, bem depois dos eventos vistos na série. Assim, caso o criador da série não siga o exemplo de Tarantino e não mude a história, pouco ou nada deve acontecer entre o herói e o principal vilão da narrativa.

O pior, entretanto, é a traição que o próprio roteiro faz consigo. Ao estabelecer determinado fato logo no início da temporada, Peaky Blinders segue um percurso muito claro e definido. Assim, toda a tapeçaria narrativa do último ano gira em torno de um acontecimento. O problema é que, no fim, a série parece se acovardar e “cancela” tudo o que havia desenvolvido em seus seis capítulos finais. Com isso, a impressão que fica é a pior possível: é como se a sexta temporada não precisasse existir. Em uma série longa como esta, a pior coisa é a sensação de que não chegamos a lugar algum. O arco narrativo de Tommy parece andar em círculos e bater em uma parede.

Série se preocupa com o depois e esquece de caprichar no agora

Afinal, o que mudou para Tommy Shelby? Depois de passar por muitas dores e buscar transformação, o protagonista volta à estaca zero. A sexta temporada parece, enfim, um grande filler. No fim, as suposições do texto chegam a conclusões já alcançadas anteriormente, mais de uma vez, ao longo das cinco temporadas pregressas. Ao chegarmos ao desfecho definitivo, Peaky Blinders entrega uma temporada do “quase“. “Quase” atingimos o clímax, “quase” tivemos conflitos, “quase” mudamos.

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Irretocável, entretanto, é o visual arrebatador. Dirigida por Anthony Byrne, a última temporada capricha na fotografia e nos efeitos visuais de apoio. Peaky Blinders sempre foi uma das séries mais bonitas da atualidade, e não decepciona em sua despedida. Para completar, a trilha sonora de Thom Yorke é excelente e casa com exatidão ao estilo do show e seus personagens. O elenco de apoio, por sua vez, está ótimo, mas pouco pode fazer em uma temporada exageradamente focada em Tommy.

Assim, a sexta temporada de Peaky Blinders é como a trilogia O Hobitt ou o revival de Arquivo X: é um produto muito bom, mas nada necessário.

Nota: 3/5

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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