Crítica: 9-1-1: Lone Star terminou sua 1ª temporada de forma emocionante

Crítica da season finale de 9-1-1: Lone Star, série criada por Ryan Murphy, Brad Falchuck e Tim Minear, exibida nos Estados Unidos pelo canal Fox.

Lone Star Final da 1ª temporada

Em season finale especial, com exibição de dois episódios, 9-1-1: Lone Star demonstra, contrariando expectativas, estar apta para mais um ano 

A pouco dias da finalização de sua primeira temporada, a Fox, canal responsável pela exibição de 9-1-1: Lone Star, resolveu renová-la para mais uma temporada. Em um período em que as produções hollywoodianas se lançam em caminhos cada vez mais incertos, fadadas às exigências de popularidade e retorno financeiro, há o que se temer em relação à decisão. 

Na minha primeira review deste seriado, mencionei o quanto os procedurais são utilizados como válvulas de um sistema que só quer aumentar o seu capital por meio de produtos que não se arriscam. Logo, assistir Lone Star foi uma tarefa acompanhada de muito receio, temendo que o texto não fosse lá algo muito admirável. 

De certa forma, a série andou, ao longo de seus 10 episódios, com os seus prós e contras. Era uma cena repetitiva aqui, um clichê acolá, e poderia sim estar condenada ao fracasso, como mais um produto que não tem nenhum respiro de autenticidade. Nesse caminho, porém, tal expectativa foi dada por incorreta: na medida em que avança, Lone Star sempre faz questão de nos lembrar que não é, tão somente, uma série sobre tragédias, catástrofes e espetáculo, mas sim sobre as emergências internas e externas dos seres humanos. E nisso, talvez, valha a pena investir. 

O discurso de Lone Star como narrativa

Engajados com seus personagens, Ryan Murphy, Brad Falchuck e Tim Minear quiseram demonstrar que o audiovisual pode ser muito mais do que só narrativa. Desde a escalação diversa de seu elenco às discussões que se propõem a fazer. 

Lá, no primeiro episódio, uma nuance ficou bem demarcada: a relação entre Owen e TK seria uma dinâmica importante colocada à frente do storytelling. Veja, por exemplo, como a overdose do garoto conseguiu definir, em partes, qual seria o destino dos dois personagens. Com isso, abriu-se um diálogo sobre paternidade que permeou, por diversas vezes, as situações mais comoventes que o seriado entregou. Em seu nono episódio, Awakening, Lone Star fez desse o seu trunfo para afunilar ainda mais os relacionamentos dos sujeitos de suas tramas. 

Ao contrário do que pensei, o coma de TK não se estendeu por muito tempo. Questionamentos válidos e muito pertinentes rondam a mente do garoto, que agora reflete se quer mesmo ser bombeiro – fruto, claro, da situação que o deixou em coma e de um passado que ainda deixa algumas feridas. Foi interessantíssimo acompanhar esses passos de TK, embora essa subtrama tenha sido encerrada de uma maneira um pouco abrupta demais. Gostaria que levasse um tempo até que ele decidisse se era mesmo isso que queria. 

Nesse momento, o relacionamento de Owen e TK fica bastante estremecido, visto que esse trabalho une os dois há muitos anos. E, mais uma vez, os diálogos entre pai e filho tornaram a experiência ainda mais emocionante. Sem dúvidas, queremos muito mais dos dois no próximo ano. 

Pais e filhos

Em mais uma costura muito bem feita, como aquela vista no episódio 5, Lone Star aproveitou para discutir relações entre pais e filhos em outras searas. Conhecemos Stuart, o pai de Judd – personalidades muito parecidas, embora o primeiro seja mais carismático. Foi muito bonito ver a preocupação de Judd e Grace na condução desse caso. Com idade avançada, Stuart, nitidamente, já não consegue mais se virar sozinho, embora a teimosia característica da idade diga o contrário. 

Sem desfecho por aqui, apenas mais uma subtrama gradual e necessária para o desenvolvimento desses personagens. E Judd segue crescendo, saindo do seu lugar de apatia para se tornar, enfim, um personagem digno de nossos olhares atentos. 

E nem mesmo as emergências escaparam da discussão paternal, né? Emocionante o pai e o filho explorando a caverna e engraçadíssima a situação em que pai e filho prendem um carrinho no nariz. 

“Boa noite para um piquenique” 

Do outro lado, as peças seguem se movimentando para Iris e Michele, que agora, finalmente, encontraram um lugar para chamar de seu dentro do emaranhado que tramas do seriado. Confesso que a revelação do que aconteceu com a garota não foi lá tão provocativa e interessante, mas as doses dramáticas proporcionadas pela esquizofrenia foram importantes. 

O foco que deram em cima do desaparecimento, no entanto, foi inconsequente, uma vez que os rompantes promissores que surgiam do mistério davam cabo para uma narrativa mais delicada. Veremos qual seguimento darão, então, para que essa não se torne uma trama arrastada e desinteressante. 

Fim do primeiro ano

Com um último episódio bastante agitado pelas transformações espaciais – confesso, essa foi uma emergência bastante inesperada -, 9-1-1: Lone Star finaliza sua primeira temporada de forma surpreendentemente bem-feita. 

Há, ainda, algumas correções que precisam ser feitas e outros vícios que precisam ser deixados. Com mais episódios em uma segunda temporada, alguns deles podem ser facilmente trabalhados, como a maior valorização de personagens secundários. Marjan, Paul, Mateo, Carlos carecem de mais investimento, mas a mais injustiçada nesse sentido é a Grace.

Não teve como não se emocionar com a performance incrível Sierra Aylina McClain durante a temporada, mas principalmente no décimo episódio, durante a ligação com o astronauta. Do outro lado da linha, a personagem só reagia a um dos momentos mais emocionantes da série até então. E suas expressões diziam tudo. Grace é uma baita personagem. E isso só mostra como os atendentes dos chamados, assim como os bombeiros e os paramédicos, são fundamentalmente importantes para manutenção dos serviços de emergências dos Estados Unidos. 

Que o próximo ano venha ainda mais inspirado, com mais criatividade, mais respiro e, claro, com uma coisa que Lone Star já sabe fazer muito bem: entreter pela valorização das humanidades. 

Até a segunda temporada! 

Notas: 

1: Não sabia que precisava da relação entre TK e Zoe até assisti-la. 

2: Será que vem triângulo amoroso na próxima temporada: Owen, Michele e Zoe?

3: Queria ter visto mais tensionamentos entre Carlos e TK. Foi uma discussão inacabada. 

4: A Grace é maravilhosa demais! Judd, agradeça aos céus. 

5: Judd referencia Chimmy no nono episódio e isso me deixou com uma sensação de que pode vir crossover por aí.

Sobre o autor
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Lucas Wilker

Estudante de Jornalismo e grande admirador do Ryan Murphy e suas fábulas. Apaixonado pelo universo audiovisual desde que os X-Men o convidaram para adentrar em suas aventuras. Chora facinho com This Is Us e é extremamente afeiçoado aos personagens das séries, dos filmes e dos livros que consome. Eterno aprendiz da escrita.

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