Crítica: Arremessando Alto, da Netflix, é um dos melhores filmes de Adam Sandler
Na Netflix, Adam Sandler entrega uma das melhores atuações de sua carreira. Arremessando Alto pode ser mais um sucesso do ator.
Sempre é uma experiência interessante ver atores da comédia testando seus talentos em dramas e gêneros mais “sérios”. Em sua maioria, estes astros e estrelas se saem muito bem. Algumas das melhores atuações de Jim Carrey, por exemplo, vêm dos dramas. Robin Williams era outro gênio que sabia passear entre gêneros como ninguém, e sua habilidade para fazer rir e chorar – às vezes no mesmo filme – era quase inigualável.
Adam Sandler, por sua vez, levou mais tempo para se aventurar, mas suas tentativas têm sido bem sucedidas. Neste aspecto, Arremessando Alto, da Netflix, é uma surpreendente mistura de drama indie com humor típico do comediante.
Essa fusão inesperada funciona em grande parte pela habilidade do ator em encarnar papeis de homens comuns. Assim, o personagem de olheiro, marginal no universo do esporte, lhe cai como uma luva. Estranho seria vê-lo como dono de clube ou técnico principal. Logo, Sandler se sai notavelmente bem ao dar vida a Stan como um indivíduo paradoxal.
Ainda que tenha olhos tristes e ombros caídos, o sujeito exala amor pelo basquete. Desta forma, seu personagem não está desolado, apenas perdeu o rumo de um caminho que ama percorrer. Como alguém que ama algo, seus olhos brilham quando presencia algo diferente. Por isso, sua parceria com Bo Cruz, um jovem jogador, é a força motriz de Arremessando Alto.
Adam Sandler tem uma das melhores e mais complexas atuações de sua carreira
Por andar nesta linha tênue entre a melancolia e a felicidade efusiva, Sandler consegue mostrar todas as cartas em seu baralho. Logo, o ator consegue mergulhar em sequências puramente dramáticas enquanto joga, aqui e ali, piadas típicas de sua carreira. Nesta perspectiva, Arremessando Alto é um filme puro de Adam Sandler.
Ainda que se caracterize como drama, é possível ver o dedo do ator/produtor em cada decisão importante. É impossível esquecer, então, que este é um filme de Sandler, e até mesmo seus vícios podem ser encontrados, ainda que em menor escala.
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Arremessando Alto prova, então, que, nas mãos de um bom roteiro e de um bom realizador, Adam Sandler pode ter pontos altíssimos em sua carreira. Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson e Joias Brutas, dos Irmãos Safdie, atestam sua versatilidade. Na produção da Netflix, Jeremiah Zagar conduz sua câmera e seus atores com a leveza dos bons dramas independentes.
Assim, não há espaço para rigidez acadêmica, pois Zagar capricha na câmera de mão, nos zooms inesperados e no improviso. Em um filme com pouco espaço para exibicionismos visuais, entretanto, Zagar acha espaço para brincar com a câmera e entregar sequências legitimamente interessantes.
Arremessando Alto é indispensável para os fãs do basquete e das histórias de superação
Os improvisos, aliás, funcionam muito bem, principalmente porque este é um filme massivamente interpretado por iniciantes ou gente totalmente alheia à atuação. Inúmeros são os jogadores reais e membros dos bastidores do basquete que passam pela tela. Com isso, Zagar prova imensa habilidade em conduzir amadores que, em sua maioria, entregam boas performances.
Para os fãs do basquete, portanto, Arremessando Alto é um prato cheio, pois traz vários rostos conhecidos e discute o esporte com propriedade e adultez. Sandler, por sua vez, fã absoluto da modalidade, parece uma criança feliz andando entre os gigantes.
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Inspirador, como todo filme sobre esporte deve ser, Arremessando Alto ainda traz a surpreendente estreia de Juancho Hernangomez no papel de Bo Cruz. O jovem de 26 anos é jogador profissional de basquete e chega a Hollywood com a segurança de alguém que estudou e batalhou para aquilo. Sua atuação é bruta, sem muitos floreios, mas sincera ao ponto de ser comovente. Sua dupla com Sandler, portanto, garante a maioria dos risos e lágrimas do filme.
Neste aspecto, Arremessando Alto é um filme visualmente mais interessante e emocionalmente mais maduro que King Richard, por exemplo, que acabou recebendo várias indicações ao Oscar. Seria este, então, o momento de Adam Sandler?
Nota: 3,5/5