Crítica: Hunters, série do Amazon, carece de irreverência e regularidade

Hunters tropeça na falta de irreverência e regularidade, tendo roteiros arrastados e episódios maiores do que o necessário. Ainda assim, vale uma espiada.

Hunters Amazon
Imagem: Divulgação

Hunters tinha tudo para ser um sucesso, mas falta de irreverência e ritmo deixam resultado pelo caminho

O conceito por trás de Hunters seria garantia de sucesso: série baseada em HQ, com Al Pacino no elenco e um grupo de especialistas exterminando nazistas. No papel, o novo projeto da Amazon Prime tinha tudo para sacudir o início do ano televisivo.

Os resultados, ainda que não sejam desastrosos, decepcionam. Pacino até aparece bastante, Logan Lerman é um ótimo ator e o humor arranca algumas risadas. O problema é que falta um elemento essencial: irreverência.

Falta a Hunters o que The Boys tem de sobra, por exemplo. A série dos heróis é engraçada, original e relevante sem jamais perder o frescor. A dos caçadores de nazistas, por outro lado, tropeça em um ritmo irregular e visuais cafonas. Os minutos iniciais, em um plano sequência forçado, tenta emular um dinamismo tarantinesco, mas que apenas abraça o brega. Ainda assim, trata-se do momento mais dinâmico de um piloto com noventa minutos de duração.

Episódios longos e roteiro arrastado prejudicam experiência

A duração dos capítulos, aliás, é um dos problemas de Hunters. Não se engane: episódios longos não são ruins. Sherlock faz um ótimo trabalho com uma hora e meia, assim como diversas produções da HBO, que extrapolam dos cinquenta minutos. O problema é o que e como a obra trabalha esse tempo. Com vinte minutos a menos em cada episódio, Hunters seria mais dinâmica e envolvente, com bem menos diálogos inúteis e cenas que não avançam a narrativa. Assistir longos capítulos pode ser um prazer, mas também um fardo quando se tem pouco tempo ou outra série esperando para ser conferida.

Grande parte desse problema diz respeito ao roteiro, que posterga informações importantes que tornariam tudo mais claro e envolvente. O grupo de caçadores, por exemplo, surge apenas no final do piloto, quando deveria ser o centro das atenções. Ao preferir acompanhar o jovem interpretado por Lerman, a série perde a chance de seguir os passos dos loucos exterminadores. É aqui que a falta de irreverência fica explícita: embora Lerman seja o elo de ligação entre o público e a história, justamente por ser “comum”, são os personagens incomuns que chamam atenção da audiência.

Apesar de tudo, mitologia é suficientemente interessante para prender atenção

Ainda assim, a mitologia do projeto é interessante o suficiente para manter os olhos na tela. A caçada e o surgimento do Quarto Reich, por exemplo, são plots que rendem desdobramentos curiosos. Al Pacino, como sempre, rouba a cena e o elenco funciona em sua maioria. Com todo o potencial e elenco, Hunters talvez funcionasse melhor como filme e não série de TV.

Por fim, voltamos a citar The Boys. A série dos super-heróis consegue um feito notável ao aliar diversão a comentários sociais e políticos sem jamais soar panfletária ou didática. Já Hunters, que tinha tudo para investir em um comentários social potente, perde a chance de tornar-se atual.

É fato que Hunters chega no momento certo, em um momento delicado, mas jamais aproveita o contexto para tornar-se relevante. Enquanto o programa dos vilões e heróis de collant e capa discute sobre poder, fascismo e preconceito, o projeto sobre um grupo que caça nazistas (!) não consegue alinhar um discurso moderno e pulsante.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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