Crítica: Mesmo lenta, 3ª temporada de The Handmaid’s Tale é um espetáculo a parte
Crítica da terceira temporada de The Handmaids Tale, que levou a frente a luta de June Osbourne para destruir a república ditatorial de Gilead.
Drama do Hulu alcança seu auge
The Handmaid’s Tale não é uma série fácil de se acompanhar. Além de sua trama densa e extremamente angustiante, ela exige muita paciência do espectador. O texto, cuidadosamente supervisionado pela autora Margaret Atwood, não está preocupado em fazer tudo acontecer rápido demais. Assim, os fãs que ficam entendiados ou ansiosos para verem o circo pegar fogo acabam se decepcionando. Mas esta terceira temporada veio para confirmar um fato: mesmo a passos lentos, a série pode sim continuar um primor, a ponto de entregar uma das melhores tramas da TV neste ano.
Abençoada seja a luta
A grande expectativa para esta temporada girava em torno da luta encabeçada por June Osburne. A personagem de Elisabeth Moss desistiu da fuga, no final da segunda temporada, e retornou para Gilead para buscar sua filha Hannah. Muitos espectadores, naquele ponto, questionaram a atitude da personagem. Afinal, porque ela iria retornar para o “inferno”, se ela poderia ajudar de fora? Acontece que The Handmaid’s Tale explicou nesta temporada que a ajuda de fora também não é tão eficaz assim. Na verdade, o governo do Canadá só conseguiu agir sempre a partir da ação de algum “traidor” da república religiosa. E June sabia disso. Ela pensou que a melhor chance que teria em recuperar sua filha seria permanecendo ali, tentando acabar com essa tirania e ajudando milhares de pessoas que precisavam de alguém que lhe estendesse a mão.
Logo, aos poucos, June começou a traçar o caminho a ser seguido, e ele não foi fácil. Talvez o destino tenha ajudado um pouco ela, quando ela caiu nas mãos dos Lawrence. O Comandante e sua esposa talvez tenham sido as melhores pessoas com quem June lidou ao longo destes últimos anos. Claro, eles eram esquisitos e tinham suas particularidades, mas Joseph caiu em si que ajudou a criar um local monstruoso, e sua consciência agiu. Os personagens tiveram ótimas interações ao longo da temporada e o casal ajudou June a encontrar formas de elaborar seu plano de fuga.
Infelizmente, Hannah acabou sendo “sacrificada” ao longo do caminho, e sendo levada embora por sua família em Gilead. Não sabemos para onde ela foi. Apenas que está longe. Mas isso serviu apenas de inspiração para que June iniciasse de fato sua luta. O primeiro ato, no ápice de sua tolerância com tanto mal, foi encabeçar a fuga de crianças. Junto de Marthas, a Aia conseguiu organizar 52 crianças para deixarem Gilead, em um avião fretado por Lawrence.
Os três últimos episódios solidificaram este arco, fazendo com que a trama girasse mais rápido. Deve ter sido um presente para os fãs mais “apressadinhos”, cansados de tanto passos lentos. Mas sem dúvida, foi um grande presente para os que contemplaram a construção sólida e eficaz de um roteiro primoroso. The Handmaid’s Tale sabe contar histórias e isso é indiscutível. Independente se é preciso terminar cada episódio com um carão de June ou não.
Os coadjuvantes roubaram a cena
Desde o primeiro minuto da terceira temporada, nós fomos brindados com grandes momentos envolvendo os coadjuvantes. A fuga de Emily (Alexis Bledel), e sua chegada no Canadá com Nichole foi um brinde ao público. Na verdade, um respiro para aqueles que não aguentavam mais ver somente coisas erradas acontecendo para os protagonistas. Vê-la encontrando Moira (Samira Wiley) e Luke (O-T Fagbenle) foi um dos momentos mais emocionantes de toda a série.
O mesmo podemos destacar em relação a tirania em Gilead. Tanto Serena (Yvonne Strahovski) quanto Fred (Joseph Fiennes) tiveram os seus momentos de glória na temporada. Desde a caçada à Nichole, a negociação através da TV usando June como isca, e o contato deles com os Winslow, tudo funcionou como devia. Mas claro, nada irá se comparar ao momento em que o casal é levado para uma armadilha, na fronteira com o Canadá, e são presos. Serena havia participado da cilada, mas ela também acabou enfrentando seus próprios pecados.
No Canadá, os Waterford começaram a contar tudo o que aconteceu em Gilead, na tentativa de juntarem provas e justificativas para uma possível intervenção internacional. Mas o que Serena não esperava é que Fred fosse entregá-la, já no limite de sua resistência. Agora, ambos estão respondendo sobre crimes e atentados contra a vida humana. E isso, sem dúvidas, fez valer cada momento desta temporada.
Outros personagens também tiveram enfoque. A Tia Lydia, por exemplo, ganhou um episódio de origem. E embora ele não tenha entregado muito, serviu para vermos um vislumbre da mulher que existia antes de tudo acontecer.
A construção de uma história
Nem tudo foi perfeito nesta temporada, e os tais passos lentos citados aqui foram “exagerados” em determinados pontos. Há um episódio, todo dentro do hospital, em que June fica de vigília com a Aia negra que foi atacada – após toda aquela história da exclusão feita pelas próprias outras Aias. June estava pouco se importando com ela. E o martírio ali, naquele quarto de hospital, foi sufocante. Entretanto, os roteiristas podem ter tentado dar uma imersão ao espectador, que acabou não funcionando muito bem. Episódios como esses, na verdade, mostram que The Handmaid’s Tale poderia ter uma temporada mais curta – algo em torno de 10 episódios, assim como foi na sua primeira temporada.
Mas, momentos como este serviram para dar mais forças a June, encabeçando uma resistência de extrema importância para a história. Além disso, tivemos a oportunidade de explorar momentos citados desde a primeira temporada, como o extermínio por enforcamento, ou a covardia exagerada com as aias – a ponto de ter suas bocas grampeadas. Todos estes elementos, serviram para contar uma história incrível, embalada por uma fotografia que continua de tirar o fôlego.
Mas agora, algo está bem claro: não dá para enxergar um final feliz para June, em meio a tantas tragédias. Sua função, no universo de The Handmaid’s Tale, é representar esperança. Mesmo que isso signifique sua morte. Os riscos que ela correu, nesta reta final, mostram que June está chegando em um pouco que ela não se importa muito mais com sua vida. Ela está destruída, corrompida por dentro. Ela se sente suja e usada por um governo que ruiu qualquer base de direitos humanos. Mas enquanto ela ainda não salvar sua filha, ela ainda precisa lutar. E no caminho, ela ainda deverá salvar mais pessoas.
O último episódio da temporada, além disso, foi uma senhora aula de roteiro. Ela coloca seu plano em prática, e começa a articular a saída das crianças direto para o Canadá. Durante o trajeto para o aeroporto, The Handmaid’s Tale entrega um dos momentos mais brilhantes e angustiantes de toda a série.
O futuro…
Mais uma temporada se passou e June permanece presa em Gilead. Mas agora, o sentido dela ali é mais claro. Como disse, ela é um símbolo de esperança. É a pessoa a qual precisa estar ali, para ajudar acabar com esse governo. Neste ponto, acredito que somente ela terá a coragem para fazer o que for preciso. Com a série renovada para uma quarta temporada, é de se esperar que ela continue ali, criando motins, até que uma grande guerra aconteça. Honestamente, estamos aqui para assistir cada momento dessa trajetória.
E eis o nosso recado: Obrigado, The Handmaid’s Tale, por ainda salvar a televisão e entregar um material de extrema qualidade. Os fãs de boas séries agradecem!