Crítica: Stranger Things 4ª temporada Parte 2 traz o que ela tem de melhor
Stranger Things 4 chega ao fim em escala épica. Episódios derradeiros finalizam a temporada e estabelecem o início do fim.
Stranger Things chega ao final de sua 4ª temporada deixando várias pulgas atrás da orelha. A primeira não tem a ver com a narrativa, mas com o formato de lançamento. Pela primeira vez, o fenômeno da Netflix lançou uma temporada em duas partes, ao contrário do modelo tradicional da plataforma, que toda a temporada é lançada de uma só vez.
A abordagem parece ter dado certo, pois Stranger Things permaneceu na boca do povo por semanas até que os capítulos finais fossem lançados. Assim, fãs e especialistas debateram os episódios anteriores, enquanto discutiam o que poderia ser visto no futuro.
O formato deu tão certo que os criadores da série, Matt e Ross Duffer, já afirmaram que gostaram da ideia. Eles confirmaram que podem fazer o mesmo para a última temporada, caso a história peça por isso. Temos, então, uma série que ainda encontra-se em seu ápice mesmo em seu 4 ano.
Além disso, é um projeto que reencontra a relevância e o sucesso mesmo que mais de 2 anos tenham se passado desde a última temporada. Nesta perspectiva, Stranger Things chega ao final de sua quarta parte cercada de expectativa e a certeza de estarmos presenciando um fenômeno cultural.
Atenção: o texto POSSUI SPOILERS
Final em larga escala tem jeito de Cinema
Stranger Things, aliás, reconhece seu valor e força na indústria e na cultura. É por isso que a série pode dividir-se em duas partes desiguais (com sete capítulos numa metade e 2 em outra) e contar com episódios de durações distintas e avantajadas. Os dois últimos capítulos, por exemplo, totalizam quase quatro horas. Assim, o desfecho tem o alcance de quatro episódios, mas montados como se fossem dois filmes.
E o final, em gloriosos 140 minutos, tem a estrutura e o escopo de um épico de aventura. Neste sentido, é como se a quarta temporada fosse um conjunto de filmes, já que a escala é gigantesca e tudo pode acontecer.
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Deste modo, o final da quarta temporada (ou, como os Duffer preferem chamar, “o início do fim” da série) é um misto de sentimentos. A escala visual e de ação é realmente épica, mas as consequências finais parecem não condizer aos perigos enfrentados. Assim, o roteiro parece amenizar a tragédia sempre que pode, diminuindo o impacto do que é o início de um claro apocalipse.
Logo, quando uma voz deixa claro o número de mortos em Hawkins (apenas 22), sabemos que os criadores querem deixar claro que perdas ocorreram, mas não foram tão severas.
Roteiro se acovarda no último momento, mas não prejudica o desfecho
Nada se equipara, entretanto, à covardia de manter Max viva ao final do último episódio. Ao ressuscitar a jovem, aliás, o roteiro cria uma porção de problemas que podem ser muito grandes ou complexos para resolver. O primeiro e mais claro é que, ao não deixar um dos protagonistas morrer, o roteiro impede que a batalha tenha impacto.
Desta forma, parece que todo o sacrifício não teve resultado, ou não alterou o estado das coisas. Assim, depois de exibir a garota sofrendo por minutos ininterruptos, tendo braços e pernas quebradas, a série resolve trazê-la de volta à vida, como se nenhuma ação anterior (seja de Max, Eleven ou demais personagens) tivesse valido alguma coisa.
Com isso, ao não ter coragem de matar Max, o roteiro tira o peso dos acontecimentos. Vecna seria muito mais maligno e as consequências seriam muito mais relevantes e dolorosas caso ela tivesse realmente partido.
Outro problema relativo ao “milagroso retorno” é o fato de Eleven, agora, ser um ser poderoso demais. É legal ver a menina movendo objetos e descendo o braço nos vilões, mas ressuscitar uma pessoa pode ser algo muito grande para a personagem e para os padrões narrativos da série. Lembre-se, por exemplo, de Neo em Matrix: apesar de toda a ficção, ressuscitar alguém é uma licença poética que pode ir além do aceitável.
Quarta temporada tem tudo para ser a melhor de Stranger Things
Os defensores mais ardorosos poderão dizer que a morte e a volta de Max terão explicação e relevância no futuro. Temos certeza disso. Os Duffer, criativos e talentosos como são, já devem ter tudo planejado. O problema é que no momento, do jeito que a temporada acaba, era necessário ao menos mais alguma perda fatal para que toda a batalha tivesse impacto.
Desta forma, Stranger Things ganharia envergadura e prepararia um terreno legitimamente perigoso para o quinto ano. Caso alguém importante morresse agora, saberíamos que ninguém estaria a salvo no final derradeiro da série.
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Ainda assim, toda a história de morte e retorno de Max é um pecadilho no contexto geral da série e de sua quarta temporada. O fato é que Stranger Things entregou sua possível melhor temporada, e isso diz muito para um programa que nunca decepcionou.
Matt e Ross Duffer, por exemplo, são mestres em criar grandes história onde vários personagens desenvolvem diferentes atividades ao mesmo tempo. É uma habilidade que grandes diretores possuem, como Peter Jackson e Christopher Nolan, que já exploraram o mesmo formato em títulos como O Senhor dos Anéis e A Origem.
Núcleos convergem para desfechos divertidos e impactantes
Assim, como é habitual na série, os núcleos caminham separadamente para se encontrarem em um desfecho épico. Agora, entretanto, o roteiro encontra uma forma satisfatória de incluir um clímax para cada grupo. Isso faz com que cada parte tenha seu desfecho e catarse, ao passo que jamais esquece do quadro geral.
Com isso, podemos ver o cuidado dos roteiristas na criação de seu universo e no desenvolvimento de seus personagens. Eddie, por exemplo, é um rapaz que batalha entre lutar e fugir desde o primeiro momento. A relação conturbada de Lucas com os colegas de time chega a uma conclusão violenta, enquanto Max encara os traumas.
Desta forma, cada narrativa criada episódios e temporadas atrás chega a conclusões sensatas e condizentes. Os Duffer sabem para onde querem ir, e isso permite que eles criem sequências puramente divertidas e envolventes. É por isso que defendemos o núcleo de Hopper e companhia na Rússia. Apesar do grupo não estar diretamente envolvido na ação principal, o resgate de Hopper e a aventura final fazem valer o investimento.
Logo, ver o time de adultos lutando contra russos e Demogorgons pode não fazer muito sentido, mas é igualmente divertido. Afinal, não é todo o dia que podemos ver David Harbour matando um monstro usando uma enorme espada típica de RPG.
Episódios formam um empolgante “início do fim”
Com atuações marcantes de Millie Bobby Brown e Noah Schnapp, os episódios finais de Stranger Things 4 estão à altura do excelente Volume 1 e do legado da série. Com ritmo alucinante e visuais impecáveis, a série se firma como um dos melhores títulos do ano.
O uso certeiro de trilha sonora, aliada à edição precisa, formam sequências que nunca falham em extrair sentimentos e reflexos do público. Igualmente impressionantes são os efeitos especiais, que funcionam em grande parte graças à direção e ao senso de escala de Matt e Ross Duffer.
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Soando realmente como o início do terceiro e último ato, Stranger Things prepara o terreno para uma promissora quinta temporada. E as especulações e teorias sugerem rumos empolgantes. Seria o Mundo Invertido apenas uma versão futurista de Hawkins e do planeta? O que acontecerá quando os portais se alargarem?
Novas perguntas e respostas chegarão quando o quinto ano aportar no catálogo da Netflix. Esperamos que em pouco tempo, pois já estamos com saudades!
Nota: 4/5