Onde Doctor Who errou com novas temporadas?

Doctor Who irá encerrar a mais recente fase e fazemos panorama anterior para discutir a ideia: onde foi que as novas temporadas erraram?

Imagem: Divulgação/BBC

Doctor Who é um pilar da cultura britânica há quase 60 anos. Para o público global, a série se tornou conhecida nas últimas duas décadas, principalmente durante os “mandatos” dos protagonistas David Tennat e Matt Smith dando vida ao entusiasmante Doutor. Sendo trasmitida pela TV Cultura e estando por alguns anos no Netflix, o seriado chegou ao seu auge no Brasil.

Contudo, desde 2018 a trama inglesa tomou um forte golpe: com a saída do popular doutor de Peter Capaldi e do responsável pelos roteiros da série durante seus áuereos anos, Steven Moffat, o pior aconteceu. Infelizmente Doctor Who se perdeu.

Os melhores anos de sua vida

Mesmo tendo retornado às telinhas em 2005 com ótimas temporadas protagonizadas por dois doutores, Doctor Who chegou aos palcos mundiais depois de 2010. Depois que o popular roteirista britânico Steven Moffat assumiu o controle da série, trazendo Matt Smith como protagonista, as coisas mudaram. Justiça seja feita, a produção ajudou muito: além de um aumento considerável no orçamento, os episódios estavam finalmente sendo filmados em full HD.

Assim, a série conheceu novos tempos. Reunindo cada vez mais fãs pelo mundo todo, DW estava mais popular do que nunca. Claro, Steve Moffat tem seus críticos dentro do fandom. Eu, por exemplo, fui um deles durante à infame oitava temporada. Isso, contudo, não apaga a total repaginação que ele promoveu na série.

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Não que a era liderada pelo genial Russel T. Davies fosse ruim, mas Moffat tinha um orçamento e um público muito maior e mais engajado. As apostas estavam altas. E ele, sabiamanente, conseguiu criar uma narrativa envolvente para os personagens.

Peter Capaldi afirma que deixará "Doctor Who" no fim do ano
Peter Capaldi como o Doutor. Imagem: BBC

Além da grandiosidade dos eventos que abordava em suas temporadas, trouxe cada vez mais sentimento para os personagens. Nesse meio tempo, os fãs viveram grandes momentos como o aniversário de 50 anos da série. Dessa forma, seu segundo doutor, o mais experiente Peter Capaldi foi aceito facilmente pelos fãs e tudo parecia tudo bem. Até 2017. Naquele ano, Steven Moffat anunciaria que não seria mais o todo poderoso dos roteiros de Doctor Who e, consigo, levaria o 12º Doutor, interpretado por Capaldi. E agora?

De mal a pior

Seguindo a dupla saída dos grandes nomes acima citados, anunciou-se a chegada dos novos donos do pedaço: a super talentosa Jodie Whittaker como a nova Doutora, primeira mulher no papel, e Chris Chibnall como novo showrunner. O problema é evidente: Chibnall era, sim, experiente em escrever para Doctor Who, já tendo alguns episódios no seu currículo. Porém, a maioria desses se tratavam de episódios ruins pouco queridos pelos fãs. Não tinha como esperar muita coisa desse ponto em diante. Mesmo assim, um fã de Doctor Who está acostumado com mudanças e consegue se animar com elas. A expectativa sempre é alta.

De cara, parecia totalmente uma nova série quando o primeiro episódio da décima primeira temporada chegou nas pequenas telas (grandes, hoje em dia). Mais uma vez com finalidade de se adaptar à novos tempos, a série havia mudado. Diferente dos longínquos tempos de 2010, entender o que se passa hoje em dia nas séries de TV é muito mais difícil. O universo agora é dos streaming é uma característica que funciona quase como via de regra é que aquela linguagem muito específica só funciona em séries de streming. Mesmo assim, quem impediria Doctor Who de tentar?

It's All Change in the 'Doctor Who' Season 11 Premiere (RECAP)
Imagem: BBC

A “netflixzação” era real. Todos que assumem um novo trabalho desejam deixar sua marca. Isso não é um problema. Porém, assistindo aos intermináveis minutos de The Woman Who Fell to Earth, estreia de Jodie como nova Doutora, era claro que o público alvo agora era outro: aqueles que estavam fugindo da televisão para assistir séries na internet. O problema? Por que esse mesmo público voltaria para a TV com uma narrativa mais lenta e muito menos dinâmica? Mesmo assim, a preocupação ainda era muito justificada, visto que Doctor Who vinha sofrendo na audiência há um tempo.

São novos tempos

Com todas as críticas, era inegável que as últimas temporadas de Steven Moffat mostravam o dinamismo que a série havia adotado. Tudo era muito rápido e de fácil compreensão. Tempo é dinheiro e cinco minutos se arrastando na TV pode significar perda de audiência. Em sua nova fase, Doctor Who parecia mirar em outra direção. O foco agora não era mais ser dinâmico, mas ser “inteligente” – o que já era antes. O foco do momento era a super sacada que o episódio teria no final, tal qual um vídeo do Porta dos Fundos, que justificaria todo aquele gasto de dinheiro da BBC e o investimento do nosso ocupado tempo. Mas quem garante que essa sacada seria ao menos interessante? Muitas vezes, não foi.

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Imagem: BBC

Outra característica que foi vitimada por essa onda de mudança: a mensagem do episódio. Doctor Who desde seu inicio foi pensada para ser uma série educativa, que incentive seu público à estudar história e ciência. Isso parece ter sido completamente esquecido. Chris Chibnall, carinhosamente apelidado de “chimbinha” pelos fãs brasileiros, voltou totalmente sua atenção para um fenômeno mais recente: a mensagem social escondida na trama. O artificio havia sido usado de forma maravilhosa em outras temporadas e criado um clima legal para abordar temas importantes dentro de histórias divertidas. Sendo que agora, em tempos de Chibnall, não havia história divertida restante. É só mensagem. Onde já se viu moral da história sem história? Em Doctor Who!

Não tava proibido aglomerar?

Mas tudo bem, eu posso estar sendo muito rigído. Vamos olhar outro ponto, então. Historicamente, uma das partes mais importantes dessa série que dura há mais de meio século são os companheiros. Quem viaja com o Doutor é tão importante quanto o próximo, pois representam nosso ponto de vista e são o coração singular e humano dentro da Tardis. São importantes, sim, mas precisa ter três deles? Como se não fosse suficiente, parece que todo episódio consegue encaixar mais uns dois personagens que não interessam para acompanhar o grupo. Uma verdeira aglomeração na TV.

Os efeitos disso na prática são episódios cada vez mais massantes. Mesmo quando encontram uma história interessante para contar com a Doutora, seguem reféns de criar mais duas linhas narrativas totalmente sem necessidade para acomodar os diversos personagens que ficaram sobrando mas precisam aparecer para justificar a folha de pagamento. Não me entenda mal, sempre foi comum em Doctor Who os personagens extras – aqueles que participam só daquele episódio mas fazem as vezes de companheiros honorários daquela aventura. É divertido, mas quando você já tem três acompanhantes protagonistas, que tempo de tela e paciência do público se tem para encaixar mais gente nesse mix?

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Imagem: BBC

A primeira série da Marvel (sem ser da Marvel)

Infelizmente, a mea culpa também se faz necssária aqui. Uma herança maldita dos anos de Steven Moffat são as histórias que sempre terminam em um evento grandioso: o fim do mundo, a destruição da humanidade e outros clássicos do tipo. De fato, isso era divertido antes. Por isso, criou-se um clima de contra-aposta nos roteiristas da série. Toda nova temporada parece ter a obrigação de apresentar um evento ainda maior do que a passada. Isso, obviamente, cansou rápido. Parece que todo episódio é o fim de algum filme da Marvel que precisa de uma grande revelação para se justiticar.

Mesmo que seja legal ter um arco gigante na temporada que tenha uma grande solução no fim, cansa. A própria DC aprendeu isso quando tentou copiar da Marvel. O segredo está na simplicidade. Ela, que é muito mal vista, carrega as melhores receitas e os melhores sabores. Fica a dica, hein, BBC?

É do coração

Em conclusão, deixo as palavras do grande héroi Chapolin Colorado: “não criemos pânico”. Doctor Who é e sempre será uma das minhas séries favoritas, assim como é para milhões espalhados pelo planeta. Nada nela é estático. Nunca conheci série que muda tanto e que bom! Hoje pode apresentar seus problemas, que infelizmente prejudicaram uma super atriz de apresentar uma Doutora ainda melhor. Amanhã, quem sabe? Eu espero que esteja melhor!

Sobre o autor
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Guilherme Bezerra

Pernambucano estudante de jornalismo. Apaixonado por séries desde sempre, aprendeu inglês maratonando How I Met Your Mother. Viajou por mundos e pelo tempo com o Doutor e nunca consegue dispensar uma maratona de Friends. Não vale esquecer a primeira maratona de séries com A Grande Família!

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