Crítica: Euphoria cresce e termina 1ª temporada como uma grande surpresa

Crítica da primeira temporada da série Euphoria, da HBO.

Euphoria cresce com o tempo e se transforma em um dos dramas mais interessantes de 2019

Julgar uma série apenas pelo episódio piloto ou pela primeira temporada é delicado. Séries não são filmes e, por isso, precisam ser avaliadas como narrativas longas divididas em grandes arcos. Euphoria, por exemplo, não revela suas forças logo no primeiro episódio. Apesar de contar com uma estreia sólida, o novo projeto da HBO começa a se desenhar com o passar do tempo. Apenas na metade do caminho ganha traços realmente marcantes. Portanto, é por volta do quarto capítulo que a audiência pode entender os propósitos do show e as mensagens que pretende passar.

Euphoria provavelmente será analisada e debatida acentuadamente no transcorrer do próximo ano. Trata-se de um projeto corajoso e difícil de descrever. Embora traga um elenco majoritariamente jovem e aborde os dramas da vida adolescente, a série não é um programa teen. Ainda assim, faz um esforço considerável para ser aceito e entendido pelo público mais jovem. A presença de Zendaya no protagonismo já indica o interesse da produção é uma fatia mais jovem da audiência.

Além disso, por mais que, em tese, seja dirigida aos adultos, é uma história que não pode ser digerida apenas por aqueles que não vivem o mundo moderno enquanto adolescentes. Não adianta discutir a ala jovem sem incluí-los na conversa. Deixar que os adultos teorizem e tirem conclusões sobre suas vidas é justamente o que a série não quer. Catalogar Euphoria, portanto, é tarefa difícil.

Euphoria cresce conforme a temporada avança e desenvolve belo visual

Em linhas rápidas, Euphoria deveria ser assistida com cautela por qualquer pessoa interessada – e não muito jovem. É uma produção que investe pesado na nudez. Bem como nas drogas e na constante vitória do mal, daquelas que machucam e ainda detém as luzes voltadas para si. Apesar de toda a crueza, Euphoria ainda investiga tudo com um verniz pop, cheio de neon e movimentos de câmera inventivos. Não é a realidade pura e simples, mas a realidade através de filtros coloridos. Uma alternativa mais bela para os olhos.

Neste sentido, aliás, Euphoria cresce visualmente a cada capítulo. Por mais bem realizado que seja o piloto, nada prepara o público para o apuro estético que se segue. O destaque vai para Sam Levinson que, além de criador e principal roteiristas, dirige os melhores episódios. É onde também demonstra total domínio técnico da função. Com isso, Euphoria poderia encher uma pasta com os melhores quadros, já que tudo é filmado com o máximo de cuidado.

Roteiro também torna-se melhor e mais complexo durante o caminho

O roteiro é outro que amadurece durante a jornada da primeira temporada. Explorando a vida de um personagem diferente a cada episódio, Euphoria aborda temas relevantes e espinhosos sem soar didática e sem ofender os limites do bom senso. Diferente de 13 Reasons Why, onde todos os males do mundo pareciam acontecer na mesma escola, Euphoria desenrola debates de forma orgânica. Sem dizer ao espectador o que discutir ou que conclusões tirar, a série permite que pontos de vista sejam colocados na mesa e, então, discutidos.

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Para isso, Levinson arquiteta os capítulos com esperteza. Um dos melhores episódios, por exemplo, se passa inteiramente em um parque, durante um festival. Aqui, todos os personagens se cruzam e catalisam seus dramas. É principalmente neste momento que o show clareia seus objetivos. Este é um drama sobre vários personagens, ao estilo Skins, e não apenas sobre Rue. Um dos erros da HBO, aliás, foi vender Euphoria como a “série de Zendaya”, abusando do starpower da artista. Apesar de ser narradora e virtual protagonista do programa, Euphoria é um mosaico, uma confluência de histórias e não um estudo de um único personagem.

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Zendaya protagonizou uma série que soube polemizar. Imagem: HBO

Com pequenos tropeços, Euphoria termina com saldo positivo

Euphoria acaba pesando a mão apenas no maniqueísmo. Exagerando na maldade de certos personagens, a série quase vira um novelão. Ainda que tente tornar um personagem específico mais complexo e humano, o saldo final é básico, e o sujeito termina apenas como um vilãozinho desprezível. Além disso, a temporada fraqueja nos minutos finais, na finale, quando se torna excessivamente confusa. Tentando repetir o feito do capítulo do festival, a narrativa toda se desenvolve durante um baile. O impacto, contudo, não é o mesmo, e as diversas linhas não caminham com a naturalidade ideal. Os momentos finais, inclusive, são tão truncados que causaram certa comoção na internet, que permanece discutindo seus significados.

O saldo, entretanto, é positivo. No elemento principal, Euphoria se sai notavelmente bem: entender e pôr pra fora uma voz autêntica, jovem. Como comentamos em nossas primeiras impressões, o texto não soa como se fosse um adulto tentando falar como adolescente. Com isso, Levinson capta a essência jovem contemporânea, assim como John Hughes captou em seu tempo. É cedo para afirmar qualquer coisa (não podemos avaliar uma série com apenas uma temporada, afinal!), mas Euphoria pode trilhar um belo caminho daqui para frente. Tem texto, visual e elenco de sobra para isso.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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