The Witcher pode cometer o mesmo erro que arruinou Game of Thrones

Baseada em livros, The Witcher pode cometer mesmo erro de Game of Thrones. Futuro pode ser repleto de surpresas e reviravoltas chocantes.

The Witcher, da Netflix, corre o risco de cometer o mesmo erro que Game of Thrones cometeu com Daenerys. Em 1985, o aspirante a autor, o polonês Andrzej Sapkowski, escreveu um conto para a revista de fantasia Fantastyika. Ao longo dos anos, ele escreveu uma riqueza de romances e contos. Eles detalhavam as aventuras de Geralt de Rivia e sua jovem pupila Ciri. Ela é uma mulher com o poder de quebrar o mundo, com as histórias muitas vezes baseadas na mitologia popular e repletas de comentários sociais.

As tentativas iniciais de transformar The Witcher em uma sensação da TV falharam. Mas em 2007 a franquia deu o salto para outro meio – especificamente para jogos. Ela começou de onde as histórias de Sapkowski pararam, continuando a narrativa, mas também mudando um pouco os personagens. The Witcher 1 não envelheceu bem, mas o segundo jogo foi um verdadeiro sucesso. Já The Witcher 3: Wild Hunt é corretamente considerado um clássico em jogos de fantasia. 

The Witcher 2 temporada
Imagem: Divulgação.

Baseada em livros e não em jogos, The Witcher pode confundir

E então, na adaptação mais ousada já feita, a Netflix lançou a série de TV, The Witcher, estrelada por Henry Cavill como Geralt e Frey Allan como Ciri. A franquia provou ser um sucesso. E o gigante do streaming está transformando The Witcher em um universo inteiro, com vários spin-offs em diferentes mídias. Mas o materiais promocionais da 2ª temporada podem sugerir um problema sutil. Um que pode assombrar a série, conforme sua história continue, e que parece notavelmente semelhante a um erro cometido por Game of Thrones.

PUBLICIDADE

Leia também: Renovada para 3ª temporada, The Witcher anuncia nova série

As histórias de Sapkowski são, sem dúvida, clássicos de fantasia, com um grande culto de seguidores na Polônia e na Europa Central e Oriental. Mas os livros são tipicamente vistos como uma espécie de franquia de nicho nos Estados Unidos em particular.

De acordo com The NPD Group, as vendas de livros de The Witcher nos Estados Unidos aumentaram em impressionantes 562%. Ainda assim, mesmo agora, a realidade é que a maioria das pessoas foi exposta aos jogos muito mais do que as histórias de Sapkowski. Até o próprio Cavill disse no Jimmy Kimmel Live que ele não sabia que existiam livros até que conheceu os produtores. 

Tudum festival Netflix
Imagem: Divulgação.

Origens da saga indicam o futuro

Na verdade, isso representa um problema sutil para The Witcher, simplesmente porque existem diferenças cruciais entre os livros e contos de Sapkowski e os próprios jogos. O mais significativo deles está na personagem de Ciri, que nos jogos é uma espécie de encrenqueira, perspicaz e confiante. As histórias de Sapkowski tratam Ciri de uma maneira muito diferente, estabelecendo-a como uma mulher cheia de segredos e um poder adormecido crescendo dentro dela. Logo, é alguém que pode mudar o mundo ou destruí-lo, e que é francamente intimidada por ele.

Combinando com isso, o trailer de The Witcher apresenta um diálogo em que Ciri diz que às vezes se sente como se pudesse queimar o mundo. Isso está perfeitamente de acordo com seu retrato nos livros, mas as pessoas que só conhecem a Ciri dos jogos acharam a intensidade disso um tanto abaladora.

A maldição de Game of Thrones

The Witcher corre o risco de cair em uma armadilha, que já se abateu sobre outras séries de TV, como Game of Thrones. Como a maioria dos espectadores conhece Ciri melhor dos jogos, eles estão se aproximando do personagem esperando arcos e traços particulares.

Leia também: House of the Dragon, prequel de Game of Thrones, ganha trailer

Os leitores saberão que Ciri realmente tem o poder de derrubar o mundo inteiro. Sem dúvida, isso não acontecerá por muitas temporadas; mas sua jornada como personagem parecerá cada vez mais estranha para pessoas que só estão familiarizadas com a Ciri dos jogos. E, quando seu poder realmente for mostrado, há o risco de que eles reajam com surpresa e horror, pois uma mulher confiante se transformará em uma força de destruição e caos.

Imagem: Divulgação.

A segunda temporada de The Witcher copia um truque de Game of Thrones

Não é difícil ver os paralelos com Daenerys Targaryen de Game of Thrones. Lá, Daenerys foi criada como uma aspirante a conquistadora com uma moralidade ambígua, filha do chamado “Rei Louco” que, no entanto, tinha o potencial de trazer a paz para Westeros. No final, porém, a oitava temporada de Game of Thrones virou essa ideia de cabeça para baixo, ao fazer com que Daenerys fizesse o que seu pai havia sido impedido de fazer: incendiar King’s Landing, provando ser tão insana quanto seu pai. 

O roteiro tentou sugerir que isso havia sido plantado desde o início – apontando para outras atrocidades que ela havia cometido muito antes de vir para Westeros – mas tudo pareceu abrupto e insatisfatório.

O que é realmente frustrante aqui é que isso não é culpa do The Witcher. Como a série de TV da Netflix não é baseada em jogos, os telespectadores estão se aproximando dela com as ideias erradas em suas mentes.

As reações confusas ao diálogo de Ciri na 2ª temporada sugerem que as expectativas anteriores ainda não foram postas de lado e, se não forem, então, a trama de Ciri em The Witcher poderia facilmente se tornar tão divisiva e emocionalmente confusa quanto à reviravolta de Daenerys em Game of Thrones.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.